O que aprendo com o movimento…

Tanto na dança quanto na yoga há posturas de equilíbrio!  

Durante algum tempo eu achei que precisava ficar parada para me equilibrar, que precisava encontrar o ponto e ficar. E queria fixar casa rs! Uma vez encontrado o equilíbrio eu o teria encontrado para o resto da vida e me apegava a ferro e fogo ao que havia conquistado. 

Ah esta palavra: conquista! Ela muitas vezes me fez não enxergar que vida é cultivo, o Steve Paxton, do contato improvisação falava em cultivo, o Alejandro Ahmed do grupo cena 11 de Floripa (se você não conhece precisa conhecer!) fala em cultivo, a Sofia Neuparth do centro em movimento em Lisboa, com quem estudei quando fui morar lá, fala em cultivo, talvez  não com esta palavra, mas fala em práticas de criar corpo. 

O cultivo ou as práticas de criar corpo me revelaram que nada havia sido conquistado e que também não havia nada a conquistar. É uma disciplina diária consigo mesmx. Praticar para praticar, para estar atento, para ouvir o caminho, que se faz ao caminhar.  

Às vezes a gente traça uma trajetória e no percurso muda de ideia, repara em outras possibilidades, desvia, muda de direção, isto é estar vivo. É estar atento aos acontecimentos, com escuta aberta.  

Li um livro no mestrado em dança da Universidade Federal da Bahia, nas aulas da maravilhosa Fabiana Britto que se chamava: Contra o método do Paul Feyerabend e eu não lembro de tudo mas tinha um trecho em que ele falava que se uma pessoa levanta e faz as mesmas coisas todos os dias igual, tem alguma coisa estranha, pois um dia pode estar chovendo, no outro o pão pode ter acabado, no outro um ônibus quebra, no outro ela está mais descansada com mais energia… nenhum dia é igual ao outro, nós só achamos isto quando estamos entendiados, quando banalizamos nossas vidas ou estamos distraídos demais para perceber as diferenças.  

Conquistar é deixar de escutar o acontecimento da vida, é querer fixar coisas que não são fixas. A gente conquista um diploma, um certificado, um prêmio, mas o aprendizado continua e estas coisas são como fotos da nossa vida em movimento, a gente congela uma imagem para reconhecer algo, mas como a foto de uma dança, esta imagem não dá conta de todos os movimentos que fizemos, de toda a nossa história… 

Pensar em cultivo e em práticas diárias me faz continuar em movimento, ouvindo o fluxa da vida, escutando as possibilidades, me faz viva! E assim descubro que as posturas de equilíbrio são movimentos de equilíbrio! Não é bom querer fixar porque a inconstância é uma constante na vida e se tentar me agarrar cairei, para me manter em movimento de equilíbrio preciso estar em movimento, jogando o peso mais para um lado, mais para o outro, fazendo pequenos ajustes. 

E não é isto também a vida? Uma prática de atenção em que vamos realizando pequenos ou grandes ajustes para encontrarmos o equilíbrio, desequilibrarmos para passarmos para o movimento seguinte e assim por diante. Sem desequilíbrios o movimento não acontece. E mover é vida.  


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