Benefícios da dança contemporânea  

Comecei a dançar bem nova balé clássico, em 1995 não havia tanta dança criativa.

Descobri minha paixão pelo movimento através do balé, mas foi ele também que me revelou um mundo bastante competitivo e no qual cabiam corpos bem específicos, de preferência magros, brancos, cabelos compridos… (algumas coisas estão mudando agora, mas é sempre bom ficar atento). 

Foi minha irmã quem me disse depois de me ver sofrer tanto que talvez meu caminho na dança não fosse pelo balé mas por outro movimento. 

Há uma ideia de que se você não dança balé não é bailarina ou que todas as outras danças sejam menores e eu, na época com 13, 14 anos, percebia que aquilo poderia ser verdade pra muita gente, mas não pra mim, ainda assim não conseguia bancar minhas escolhas com toda a auto-confiança que gostaria. 

Mas aí teve um momento que eu percebi que dançar era meu modo de estar no mundo e não dava pra continuar dançando princesas e fadas (com todo o respeito e sabendo que o balé é muito mais do que isto), precisava inventar outros corpos, me descabelar um pouco (sendo bem superficial agora). 

E aí minha irmã, Janaína, falou de uma tal de dança contemporânea, comecei a assistir trabalhos e fazer aulas de consciência corporal. 

Comecei a ouvir de Alexander, a cabeça bem solta, como uma rolha na água, lembro da imagem da primeira aula, era tudo muito sutil, eu não sabia o que fazer, me ensinavam sobre meus ossos, sobre micro-movimentos que eu nunca havia reparado e que de levar a atenção tornavam-se enormes. 

Era outro o mundo. 

Assistia trabalhos e não entendia nada, não conseguia enxergar o que outros viam, não conseguia reconhecer passos, como eu olhava pra aquela dança? Como eu movia aquela dança?  

Fui percebendo que não havia uma dança a imitar, assim como não há uma vida a imitar, eu criava minha dança a partir dos ossos, dos apoios, da relação com a gravidade. Fui aprendendo a me aproximar cada vez mais de mim, de quem sou. 

Esta dança foi me dando a possibilidade de mover perguntas e não apenas certezas, de ver corpos muito diferentes movendo lado a lado, então se você acha que esta muito velho pra dançar olha o Kazuo Ohno, o trabalho da Pina BauschKontakthof com pessoas com mais de 65 anos;  se você se acha gordo para dançar olha a Jussara Belchior; olha a candoco dance que trabalha com bailarinos cadeirantes, com muleta… enfim… são apenas alguns exemplos da diversidade de corpos que encontramos na dança! Então nada de… ah você tem corpo de bailarina mesmo! Oi?! Corpo de bailarina? Corpo de bailarina temos todas nós que dançamos! Da dança do ventre, ao balé clássico, da dança cigana à dança de rua! 

Mas voltando… 

A dança contemporânea me ensinou: 

 

Dança não é apenas movimento do corpo 

Dança é um modo de pensar o mundo e de agir nele. O que acontece na sala de aula enquanto danço, acontece quando caminho pro trabalho, quando converso com alguém, porque se eu  penso que não serei capaz de algo e logo desisto porque agiria de um modo diferente ao ser desafiada na vida, ao brigar com meu companheiro, ao não passar em um trabalho, o modo como opero, ajo na dança, é o modo como opero, ajo na vida, então quer se auto-conhecer? Saber como age no mundo? Vem dançar comigo! 

 

Respeito às diferenças  

Não nós não temos o mesmo corpo, não realizamos o movimento da mesma forma e tá tudo bem e isto é lindo porque você pode continuar a ser você ou o meu outro e eu posso me permitir ser sua outra lado a lado e nós podemos dançar juntxs! Olha só que incrível né! A gente não precisa ser igual pra dançar junto!  

Se cada qual é um singular porque existiriam primeiras bailarinas? A gente pode se revezar! Liderar juntos! Diluir lideranças? A gente pode dividir o centro, se alternar no espaço, fazer cada um, uma parte da coreografia ou do solo.  

 

Eu penso que se a gente estiver atento a como o modo de utilizar o espaço afeta nossas vidas, a como o modo de se mover nos afeta, se nós tivermos esta atenção e consciência, nós veremos a dança como algo que pode mudar nossas vidas!  

Você é uma pessoa extremamente contida? Experimenta se jogarse arriscar a mover grande, ocupando muito espaço, de um modo solto, faça a dança mais ridícula que puder para que você ria, faça os outros rirem com você, vai ser desconfortável no início? Vai! Não se chamaria mudança ou transformação ou coragem se fosse fácil, se envolvesse conforto. A questão talvez seja o que você está disposto a fazer em nome do seu conforto? Está disposto a continuar sofrendo pelos mesmas coisas porque não muda?  

As coisas não são simples, não, não são, já perdi trabalho por defender um ponto de vista e sim tenho uma família que pode me ajudar, mas se puder te pedir algo, cuide-se, você encontrará suporte em grupos de apoio, amigos, nada é permanente o que é uma boa e má notícia. Existem pessoas com valores próximos com quem a gente vai conseguindo construir possibilidades! Possibilidades de existência! E a dança contemporânea ao dizer sim ao seu corpo, ao seu movimento, a sua dança pode te ajudar neste caminho de auto-conhecimento e de construção de uma vida singular que te respeite, que tenha seus valores, que possa dizer sim a todo o seu modo singular de existência no mundo 

É por isto também que a dança não é apenas chacoalhar o corpinho, mas é escolher um modo de vida, é produção de conhecimento, é construção de mundo 

Chacoalhe o seu mundo começando por chacoalhar você!  

VEM!!! 

PS: eu, como diria uma amiga, vou escorrendo de um assunto pro outro, porque penso o mundo muito conectado, pra mim não tem essa de… ai eu faço matemática e adoro dançar flamenco, nada a ver né?! Oi?! Você já estudou a musicalidade destas danças? O quanto são matemáticas? Enfim… eu conecto tudo, o que pode fazer com que algumas vezes eu perca o rigor ao discutir um assunto ou ao querer conectar tudo, deixando de perceber as diferenças das coisas iguais, como diria a Sofia Neuparth. Por isto vou escrever um outro texto sobre os benefícios da dança e vou tentar não escorregar tanto, prometo ;p  


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